Olá!
Hoje, quero compartilhar com vocês uma experiência
bem legal que vem acontecendo em meu trabalho.
Desde 2008 tenho trabalhado com uma garotinha muito
inteligente e dedicada. M.R.P.L é cega congênita e está no 3º ano do ensino
fundamental, freqüenta a sala de recursos multifuncional duas vezes na semana. Aluna aprendeu o sistema braille, porém não consegue
usar a máquina braille devido a uma hemiparesia do lado direito. Apesar, de a
aluna ter dificuldade com a mão direita, consegue usar o dedo do meio da mão
direita para manusear as teclas: setas para direta/esquerda; para cima/para
baixo; Enter e BackSpace.
Diante
da dificuldade apresentada, o grande desafio era escolher um instrumento de
escrita que atendesse a necessidade da aluna. Após conversa entre pais,
terapeuta ocupacional foi decidido pelo uso do computador com software de voz,
já que era um recurso acessível à família e a aluna.
Por meio do aplicativo T- testar teclado (Dosvox),
aluna explorou o teclado alfanumérico, memorizando algumas teclas.
A partir de algumas aulas com o uso do testar o
teclado passou a usar o Edivox. Para essa atividade foram criadas estratégias
para que aluna pudesse memorizar onde cada letra se localizava. Por exemplo,
primeiro a aluna aprendeu a localizar e usar a linha mestre (asdefghjklç). A
partir do uso dessa linha foram introduzidas as demais. As estratégias para
localizar a linha mestre foi a de contar as teclas que se encontram do lado
esquerdo do teclado alfanumérico (Ctrl, Shift, CapsLk, Tab e Aspas/apóstrofo).
Aluna conta até terceira tecla, encontra o CapsLock e do lado direito dessa
tecla encontra a letra A e dessa forma a letra F, posicionando os quatro dedos
sobre as teclas a, s, d, f. O mesmo foi feito para aprender onde se localiza o
Shift, Enter, BackSpace do lado direito. Também foi lhe explicado que a o Enter
se encontra do lado direito do ç, que o Shift se encontra do lado direito do
ponto e vírgula e assim por diante.
Como aluna
não consegue posicionar a mão direita sobre a linha mestre (letras j, k, l, ç),
posiciona apenas a mão esquerda sobre as letras a, s, d, f, sempre observando a
marcação que há na letra F e na letra H e a partir dai digita as demais letras.
Outra estratégia desenvolvida foi a de memorizar a letra que está em cima ou
embaixo de cada letra, sempre indicando se está mais para o lado esquerdo ou
direito da letra. Por exemplo, para achar a letra P foi indicado que a mesma se
encontra em cima da letra ç, que para encontrar o ponto final, o mesmo se encontra
embaixo da letra L, mais para canto direito dessa letra.
Para complementar essa atividade e facilitar o uso
do teclado e consequentemente, aprender a digitar com autonomia foi usados o
Letravox e a ForquinhaVox (jogos educativos do Dosvox). Ao trabalharmos de
forma lúdica facilitou a memorização das teclas e permitiu que aluna aprendesse
a digitar e usar o teclado com autonomia.
Como tudo é um processo, mesmo antes de decidirmos
pelo uso do computador para escrita em sala de aula, o trabalho realizado em
sala de recursos já se preocupava com o uso do computador, primeiramente para uso
dos jogos educacionais que o programa Dosvox possui, segundo porque ajuda na
alfabetização. Esse trabalho foi bem importante para que aluna tivesse o
sucesso que teve no uso do computador e na digitação.
Hoje, trabalhamos para que a aluna
se torne mais ágil na digitação e consiga resolver um pequeno impasse que está
dificultando a autonomia total no teclado, que é o uso do Ctrl+Alt+D, como
também de fazer as letras que estão sobre os números, por exemplo, que
necessita de usar o Shift+ a tecla 1 (para fazer o sinal de exclamação). Essa
função demanda o uso das duas mãos, o que dificulta por conta da hemiparesia.
Com ajuda da terapeuta ocupacional a aluna tem melhorado e conseguido já
digitar algumas teclas com o dedo do meio dessa mão. Esperamos que em breve,
essa questão seja resolvida.
Os resultados apresentados pela aluna evidenciam que
as estratégias estão sendo adequadas, mas que outras terão que ser
desenvolvidas para atender as necessidades que virão.
A memória, a concentração que aluna apresenta foi
fundamental para o sucesso da atividade, bem como sua dedicação. Conceitos,
como: direita/esquerda, em cima/embaixo foram refinados. Ao usar a
ForquinhaVox, por exemplo, ouve o refinamento da discriminação auditiva, pois é
necessário prestar atenção no som para saber quantas letras tem a palavra, em
que lugar a letra se localiza na palavra, para que assim saiba que palavra é.
Todo
trabalho demanda um tempo e nesse caso foi um processo de mais ou menos dois
anos desde que iniciamos com o uso do computador. Percebo que a atividade
proposta vem resolvendo a questão da escrita para aluna, pois por meio da
autonomia no teclado, consegue se expressar não somente oralmente, mas também
por meio da escrita. A aluna tem conseguido participar das atividades em sala
de aula como os demais alunos.
Muitas
foram as estratégias desenvolvidas, mas o sucesso desse trabalho se deve
principalmente pelo esforço e dedicação da aluna, bem como pela parceria
estabelecida entre escola/família/terapeuta ocupacional e sala de recursos.
O uso das tecnologias é um ponto forte no trabalho
das salas de recursos multifuncionais e vejo o quanto as tecnologias têm feito
diferença na vida dos alunos com deficiência, como no caso da minha aluna.
Hoje, a mesma usa um notebook em sala de aula com um teclado normal acoplado,
pois o teclado de um desktop facilita a digitação. A intenção é que tenha
também autonomia no próprio teclado do notebook, mas isso será um trabalho
posterior.
Concluo
dizendo, que esta é uma atividade prazerosa tanto para a aluna que a cada dia
está melhor no uso do computador/Dosvox, como também para mim. É uma grande
alegria ver que a tecnologia assistiva tem facilitado a vida da minha aluna.
Abraços!!!